Como nomear o inominável? O romance “Um amor” fará o leitor a se questionar sobre várias situações corriqueiras e como pode ser pavoroso conhecer o próximo (as aparências enganam). Após um ligeiro vexame em sua cidade natal, Nat, se recolhe em um lugarejo ermo. Será que esse povoado trará paz para o recomeço da tradutora Nat?
“Nat percebe que ela acha que comprou a casa. Ninguém em sã consciência, pensa, se meteria em tanto trabalho por causa de um barraco alugado. Mesmo uma velha louca é capaz de ver isso.”
Eu fiquei com dó da Nat, pois ela mudou para uma casa precária, herdou um cachorro no mínimo estranho, os vizinhos são esquisitos, o jardim está mais abandonado do que mandioca no pé da serra, inúmeras goteiras em sua horta e o mais assustador é o proprietário. É de arrepiar toda vez que ele aparece na narrativa. Credo!
A história é alternada entre a voz da protagonista e a do narrador. A objetividade de algumas cenas é inquietante. Aquele silêncio que chega a ser ensurdecedor, sabe?
“O mal-estar da felicidade é uma ideia que agora a ronda com insistência: um tipo de felicidade que contém em si a semente de sua própria destruição.”
A natureza humana de alguns é algo assustador e com requintes de perversidade. Tive n0j0 dos personagens masculinos dessa obra, pois os pensamentos lascivos deles é algo sombrio.
É impressionante como mesmo em um vilarejo os moradores são fofoqueiros, julgam o próximo sem retidão e se acham prontos para a condenação final.
Sara Mesa nasceu em Madri e suas obras são premiadas. “Um amor” foi considerado pela crítica espanhola o melhor romance de 2020.
Obra indicada para quebrar paradigmas, trabalhar a resiliência, o ressignificar da vida e para compreender o amor no real sentido da palavra!